Contratempo
André Griffo, Diambe, Gilson Plano, Leila Danziger e Vivian Caccuri
Casa Eva Klabin, RJ/BR
Mai. - Jun. 2024
Texto Curatorial
O termo contratempo <derivado do italiano contrattempo> tem suas origens no léxico musical, inicialmente oriundo da música clássica, que descreve uma mudança rítmica inesperada de uma melodia. Deslocado do seu contexto original, passou a denotar uma contrariedade que se insere em um percurso ou atividade e que, portanto, frustra as expectativas de um planejamento. Retirada a carga negativa do seu uso corriqueiro, seu aparecimento nos impõe um reposicionamento no mundo perante um novo dado. Convida-nos, como resultado, a narrar aquilo que foge ao planejado e impacta de maneira incisiva o nosso funcionamento como indivíduos produtivos. Transforma, em termos benjaminianos, um cotidiano arraigado na vivência — solitária, anônima, banal — na amplitude da experiência — narrável, coletiva, significante.
Sem dúvida, não há nada banal na experiência oferecida por este museu. O visitante que adentra suas portas é imediatamente transportado para um cosmos próprio do período e da condição em que viveu uma das primeiras colecionadoras do país. Eva Klabin, no ambicioso desejo de construir um museu aberto ao público, conservou não apenas o espírito de sua época, mas agregou uma cultura material que abarca um arco de 50 séculos de história. Tal coleção, contudo, preserva as bases de uma cronologia que obedece a arcos escolásticos, indo do Egito antigo, entendido como berço da civilização ocidental, ao período greco-romano, Idade Média, Renascimento e chegando, enfim, ao maneirismo inglês e movimentos flamengos e holandeses. Reservou, ainda, espaço para o outro, visto como exótico: culturas latino-americanas e asiáticas. Reorganizados historicamente após a morte da colecionadora, a casa e seu acervo propõem um tempo dilatado e linear, fruto de uma construção histórica eurocentrada.
Se Eva teatralizou a história na criação do cosmos que nos circunda, hoje teatralizamos o seu próprio modo de vida. Seus costumes, trejeitos e biografia são remontados de acordo com as prerrogativas de uma casa-museu, tradição museológica surgida no século XIX (no Brasil, na segunda metade do século XX), que visa conservar a memória de personalidades ímpares. O programa Contratempo propõe, aqui, uma suspensão de tal teatralidade mediante uma reflexão sobre o cerne de um dado, tomado como cristalizado, que rege o funcionamento da instituição: o tempo. Reunindo trabalhos de cinco artistas proeminentes da cena brasileira, cada cômodo apresenta poéticas que traçam diferentes noções sobre o tempo — sua passagem, cadência, falência e transformação. Em sua apresentação material, funcionam como indagações cujos ecos serão elaborados no ciclo de conversas, semanais e interdisciplinares, em que às quartas-feiras os artistas são convidados a elaborar suas percepções sobre o tempo em suas práticas artísticas. Contaremos com a presença de participantes de outros campos — entre eles, químicos, musicistas, antropólogos e poetas. Através desse mergulho na interdisciplinaridade, buscaremos pistas para a seguinte questão: Como passado, presente e futuro se sobrepõem na experiência da arte, desafiando uma compreensão de tempo linear e homogênea?
Lucas Albuquerque.
Sem dúvida, não há nada banal na experiência oferecida por este museu. O visitante que adentra suas portas é imediatamente transportado para um cosmos próprio do período e da condição em que viveu uma das primeiras colecionadoras do país. Eva Klabin, no ambicioso desejo de construir um museu aberto ao público, conservou não apenas o espírito de sua época, mas agregou uma cultura material que abarca um arco de 50 séculos de história. Tal coleção, contudo, preserva as bases de uma cronologia que obedece a arcos escolásticos, indo do Egito antigo, entendido como berço da civilização ocidental, ao período greco-romano, Idade Média, Renascimento e chegando, enfim, ao maneirismo inglês e movimentos flamengos e holandeses. Reservou, ainda, espaço para o outro, visto como exótico: culturas latino-americanas e asiáticas. Reorganizados historicamente após a morte da colecionadora, a casa e seu acervo propõem um tempo dilatado e linear, fruto de uma construção histórica eurocentrada.
Se Eva teatralizou a história na criação do cosmos que nos circunda, hoje teatralizamos o seu próprio modo de vida. Seus costumes, trejeitos e biografia são remontados de acordo com as prerrogativas de uma casa-museu, tradição museológica surgida no século XIX (no Brasil, na segunda metade do século XX), que visa conservar a memória de personalidades ímpares. O programa Contratempo propõe, aqui, uma suspensão de tal teatralidade mediante uma reflexão sobre o cerne de um dado, tomado como cristalizado, que rege o funcionamento da instituição: o tempo. Reunindo trabalhos de cinco artistas proeminentes da cena brasileira, cada cômodo apresenta poéticas que traçam diferentes noções sobre o tempo — sua passagem, cadência, falência e transformação. Em sua apresentação material, funcionam como indagações cujos ecos serão elaborados no ciclo de conversas, semanais e interdisciplinares, em que às quartas-feiras os artistas são convidados a elaborar suas percepções sobre o tempo em suas práticas artísticas. Contaremos com a presença de participantes de outros campos — entre eles, químicos, musicistas, antropólogos e poetas. Através desse mergulho na interdisciplinaridade, buscaremos pistas para a seguinte questão: Como passado, presente e futuro se sobrepõem na experiência da arte, desafiando uma compreensão de tempo linear e homogênea?
Lucas Albuquerque.