Em Cartaz

Contratempo
↪ Casa Eva Klabin, RJ
Info & contato

exposições
ensaios
sobre

Open Studio – Estudos em Trânsito


Brígida Campbell, Filomena Mairosse,Luisa Brandelli, Mariana Souza, Mkutaji Wa Nija, Moara Tupinambá, Nay Jinknss, Patfudyda, Paulete Lindacelva

Projeto de curadoria e acompanhamento de Residências Artísticas
Instituto Inclusartiz, RJ/BR
Set-Dez. 2022

Texto Curatorial


que maneiras o trânsito congrega a transformação desses dois agentes? Em tempos em que os fluxos migratórios são um dos principais vetores de discussão acerca das transformações culturais, a situação de artista em trânsito parece ser a mais coerente para se apreender o nosso zeitgest. Seja pela mudança da configuração do espaço de trabalho, das condições climáticas, dos adventos políticos ou das imposições geográficas, os fluxos migratórios contemporâneos questionam uma ideia de pertencimento e de identidade única. Já no campo da arte, o boom dos programas de residência ao redor do mundo talvez denote o indício da condição atual do artista. Categoria não tão nova – afinal, a historiografia da arte indica o estabelecimento da categoria de artista viajante às expedições colonizadoras do século XVIII –, o corpo em deslocamento agora conjuga não a necessidade de representar o outro em busca do pitoresco, mas contaminar e ser contaminado pela alteridade. Diferindo-se do viajante provindo do “século das luzes”, seu par contemporâneo despe-se de suas certezas e vai ao encontro das diferenças.

Nesse sentido, esta exposição parte do princípio do lugar de trânsito proporcionado aos nove residentes que compõem o grupo do nosso programa de residências para pensar o espaço da pesquisa como uma atividade potencializada pelo fluxo de ideias ocasionadas por um corpo em deslocamento. O conjunto, formado por artistas, curadores, pesquisadores e seus entremeios possíveis, é fruto de longos processos seletivos, que tiveram como resultado mais de 500 candidaturas, divididas entre os estados que compõem o solo brasileiro e os países da África Meridional, ou, ainda, premiações e parcerias com outras instituições. Entre as pesquisas agenciadoras de Brígida Campbell, Mariana Souza, Mkutaji Wa Nija e Paulete Lindacelva e os estudos poéticos de Filomena Mairosse, Luísa Brandelli, Moara Tupinambá, Nay Jinknss e Patfudyda, o programa de residências perfaz o seu objetivo de não apenas ser um espaço democrático e diverso no que concerne às discussões artístico-políticas, mas também o seu compromisso para com o revisionismo crítico necessário às narrativas cristalizadas em nossa história.

Entender a metamorfose da condição do artista é perceber as mutações do trabalho de arte e do exercício curatorial: entre fotografias, diagramas, vídeos, publicações e protótipos, reúnem-se aqui estudos que apontam para formalizações vindouras e projetos a serem realizados. Afinal, estar em trânsito é reconhecer o desconhecimento como força motriz. Deve-se, portanto, abrir espaço ao inacabado, ao incerto. Neste sentido, o conjunto de relações aqui estabelecidas se dá mais pelos campos de latência das pesquisas a serem desenvolvidas do que, necessariamente, ao objeto exposto nesta sala. Além disso, entendendo também que as propostas expostas podem se intercambiar ou mudar o seu trajeto, este local se abre para eventuais alterações e decisões futuras, tanto por parte dos artistas como da curadoria. Vivenciar a residência é, antes de tudo, exercitar os sentidos. Planejamos, assim, traçar caminhos para a construção de espaços cada vez menos categóricos e engessados, construindo uma ideia de instituição que se abre para as mudanças provindas do debate e do exercício cotidiano da liberdade. Estar em trânsito é habitar o fluxo.

Links e material adicional

curadoria e pesquisa

lucasalbuquerques@gmail.com