Terra Comum
Ana Bia Silva, Azizi Cypriano, Benoit Fournier, Kelton Campos Fausto, Mayra Carvalho, Raphael Oboé e Zé Carlos Garcia
Curadoria
Z42 Galeria
Set. 2024
Texto Curatorial
Chega de direitos humanos!
E os Direitos das Baleias?
E os Direitos das Lesmas?
E os Direitos das Focas?
E os Direitos das Enguias?
E os Direitos dos Guaxinins?
E os Direitos dos Mergulhões?
E os Direitos dos Lobos?
E que tal, que tal,
Que tal, que tal os Direitos dos Insetos?
E os Direitos das Lesmas?
E os Direitos dos Robalos?
E os Direitos dos Asnos?
E os Direitos das Minhocas?
E os Direitos dos Germes?
E os Direitos das Plantas?
Moondog
Enough about Human Rights,
do album H’art Songs, 1978
Em 1960, em meio às violentas ditaduras que se sucederam na América do Sul, o crítico Mario Pedrosa definiu a arte como “um exercício experimental de liberdade”, em contraposição às inúmeras medidas de repressão e censura experimentadas no contexto militar. Se hoje tal afirmação parece constituir o cerne da prática de inúmeros artistas, que encontram na arte uma ferramenta de discussão social, formal e política que engendra questões sobre gênero, cor e classe, as últimas notícias e impactos em torno do aquecimento global, do extermínio de espécies e do empobrecimento da terra nos reclamam uma nova atualização da definição da arte: como pensar a defesa de uma liberdade senão pela revisão da pirâmide ecológica?
Não se pretende, contudo, definir que tais discussões são inaugurais. Artistas como Ana Mendieta (1948 – 1985), Cecilia Vicuña (1948 –) e Joseph Beuys (1921 – 1986) compartilham de preocupações similares ao recorte desta exposição, traçando um pensamento poético que alinha a arte à vida, aos direitos da terra, das plantas e dos animais. Podemos, ainda, estabelecer paralelos com os movimentos hippiese a contracultura verde dos anos 60, momento de contestação em que surge o ambientalismo a partir da organização do movimento e de seus ideais. O que nos é fresco, entretanto, é a maior horizontalidade na escuta dos ensinamentos de etnias indígenas, que carregam tal compromisso no cerne de sua existência.
Neste sentido,Terra Comum reúne sete artistas que, nas particularidades de suas obras, propõem uma simbiose entre a agência humana, a mineral e a vegetal. O exercício experimental da liberdade torna-se uma proposição mutualista, fincada no compromisso em descobrir maneiras de ser em conjunto. São, antes de tudo, proposições em busca de uma outra inteligência planetária, da qual a obra de arte não é um fim em si mesmo, mas uma experimentação poética sobre a interação da biomassa. É na condução desta investigação que encontramos um diálogo entre o mineral, a madeira legal, o chorume, o barro e pigmentos orgânicos, que se tornam matéria-prima para a produção de uma alquimia onde o artista não se vê como um maestro, mas como um facilitador. Formas nascidas a partir da escuta da terra e da matéria viva que a recobre.
Lucas Albuquerque.
E os Direitos das Baleias?
E os Direitos das Lesmas?
E os Direitos das Focas?
E os Direitos das Enguias?
E os Direitos dos Guaxinins?
E os Direitos dos Mergulhões?
E os Direitos dos Lobos?
E que tal, que tal,
Que tal, que tal os Direitos dos Insetos?
E os Direitos das Lesmas?
E os Direitos dos Robalos?
E os Direitos dos Asnos?
E os Direitos das Minhocas?
E os Direitos dos Germes?
E os Direitos das Plantas?
Moondog
Enough about Human Rights,
do album H’art Songs, 1978
Em 1960, em meio às violentas ditaduras que se sucederam na América do Sul, o crítico Mario Pedrosa definiu a arte como “um exercício experimental de liberdade”, em contraposição às inúmeras medidas de repressão e censura experimentadas no contexto militar. Se hoje tal afirmação parece constituir o cerne da prática de inúmeros artistas, que encontram na arte uma ferramenta de discussão social, formal e política que engendra questões sobre gênero, cor e classe, as últimas notícias e impactos em torno do aquecimento global, do extermínio de espécies e do empobrecimento da terra nos reclamam uma nova atualização da definição da arte: como pensar a defesa de uma liberdade senão pela revisão da pirâmide ecológica?
Não se pretende, contudo, definir que tais discussões são inaugurais. Artistas como Ana Mendieta (1948 – 1985), Cecilia Vicuña (1948 –) e Joseph Beuys (1921 – 1986) compartilham de preocupações similares ao recorte desta exposição, traçando um pensamento poético que alinha a arte à vida, aos direitos da terra, das plantas e dos animais. Podemos, ainda, estabelecer paralelos com os movimentos hippiese a contracultura verde dos anos 60, momento de contestação em que surge o ambientalismo a partir da organização do movimento e de seus ideais. O que nos é fresco, entretanto, é a maior horizontalidade na escuta dos ensinamentos de etnias indígenas, que carregam tal compromisso no cerne de sua existência.
Neste sentido,Terra Comum reúne sete artistas que, nas particularidades de suas obras, propõem uma simbiose entre a agência humana, a mineral e a vegetal. O exercício experimental da liberdade torna-se uma proposição mutualista, fincada no compromisso em descobrir maneiras de ser em conjunto. São, antes de tudo, proposições em busca de uma outra inteligência planetária, da qual a obra de arte não é um fim em si mesmo, mas uma experimentação poética sobre a interação da biomassa. É na condução desta investigação que encontramos um diálogo entre o mineral, a madeira legal, o chorume, o barro e pigmentos orgânicos, que se tornam matéria-prima para a produção de uma alquimia onde o artista não se vê como um maestro, mas como um facilitador. Formas nascidas a partir da escuta da terra e da matéria viva que a recobre.
Lucas Albuquerque.