Rabo de cometa

2022

Em um vídeo de celular, uma voz feminina faz um tour na parte externa de uma casa de festas. Ela apresenta aos seus seguidores virtuais uma garagem repleta de carros, uma grande piscina e, ao fundo, um campo de futebol. Enquanto se prepara para seguir com a gravação, um clarão desponta no horizonte, no que ela se pergunta: “Nossa, olha! O que é isso?”. (..) Ainda que o corpo estranho se apresente apenas como bola de luz, a cauda flamejante que o segue irrompe o céu, demarcando a rota percorrida pelo astro. Estrela, foguete, meteoro: a voz de cada um no vídeo dá a sua aposta do que está sendo captado ali. 






Lua Coelho Negra

2023

Em um vídeo de celular, uma voz feminina faz um tour na parte externa de uma casa de festas. Ela apresenta aos seus seguidores virtuais uma garagem repleta de carros, uma grande piscina e, ao fundo, um campo de futebol. Enquanto se prepara para seguir com a gravação, um clarão desponta no horizonte, no que ela se pergunta: “Nossa, olha! O que é isso?”. (..) Ainda que o corpo estranho se apresente apenas como bola de luz, a cauda flamejante que o segue irrompe o céu, demarcando a rota percorrida pelo astro. Estrela, foguete, meteoro: a voz de cada um no vídeo dá a sua aposta do que está sendo captado ali.





Arrivistas

2021

Na série Arrivistas (2020), Kauê Garcia se vale de entrevistas, palestras e declarações proferidas durante a crise do coronavírus por representantes de grandes marcas – ou, para utilizar um termo contemporâneo, CEOs, cuja sigla denomina diretores executivos – para, posteriormente, reinseri-las no mundo. Ainda que o momento da maior crise sanitária e humanitária das últimas décadas tenha ceifado inúmeras vidas, acarretando subsequentes instabilidades econômicas e financeiras, os discursos encontrados pelo artista refletem o fosso desigualitário perpetuado pelo modelo econômico neoliberal: grandes empresas tendem a considerar a pandemia como uma oportunidade de crescimento. Ou, conforme destacado em um dos cartazes da série Arrivistas, como um golpe de sorte.





Sim, sim, segredos fugazes

2021

As cortinas que figuram nas pinturas de Béla Pablo Janssen estabelecem um jogo de representação e meio material na própria condição de visibilidade que se estabelece. Aqui, tecidos translúcidos e vidros brincam com a ideia do ver através, produzindo uma caçada espiralar daquilo que, em algum momento, dará o ar da graça. O que se dá a ver, porém, é justamente a intrínseca condição da pintura tornada tangível em sua alegoria autorreflexiva por excelência, refazendo-se a todo instante em sua metalinguagem. 





Heaven and Earth Magic: notas sobre a alegoria e a melancolia

2019

Através de uma leitura alegórica da realização do filme, Harry institui através das colagens um universo fragmentário, que reflete as condições da sociedade do pós-guerra. No entanto, não podemos afirmar que o caráter melancólico se apresenta do modo ao qual Benjamin apontou. Pois enquanto o objeto de análise do autor, o drama barroco, é marcado por um pessimismo e descrença nas obras que alçariam ao divino. Já Smith buscava, através do gesto artístico e da pesquisa antropológica, uma reconexão com o misticismo.





Instabilidade e permanência na obra de Nathan Braga

2019

Em seu uso constante do mármore e da naftalina, Nathan Braga tensiona a estabilidade das obras em sua permanência, já que elas perigam desvanecer antes do fim de seu período expositivo. Sua produção coloca uma presença onde a iminência do desaparecimento se impõe graças às propriedades químicas da naftalina, reservando aos materiais com que se relaciona uma completa instabilidade. A angústia desvelada nos trabalhos do artista origina-se de sua pesquisa acerca de experiências pessoais, pontuadas pela falta da mãe. Ainda que suas peças sejam atravessadas de subjetividade, o branco opaco que envolve a maior parte delas revela um ensejo iconoclasta, a recusa da formação da imagem.




O bom deus se esconde nos detalhes, ou histórias do tempo no filme “Sixty Six

2019

Lewis Klahr olha para seus impressos como que dentro de um trem em alta velocidade: pela janela, é possível vislumbrar apenas um vulto vertiginoso, onde captam-se fragmentos e, com eles, constrói-se narrativas quase idílicas sobre o que o passado um dia significou. Ainda que mergulhadas dentro de um nevoeiro, as páginas expostas no vídeo geram engramas que são identificados pela memória. Os grãos do papel perfuram sutilmente as cores da impressão, que por sua vez não se contém a preencher apenas as formas dos personagens as quais foram designadas. Transbordam. Manchas gráficas superpõem-se duplamente: Entre si e entre as figuras.

Transmutar o assombro

2021

Delineado os problemas sociais que afligem e oprimem seus corpos marginalizados, a prática da dança se institui como um ato de criação coletiva de uma outra realidade para aqueles que são atravessados não apenas pela precariedade promovida pelo atual momento pandêmico, mas por todas as práticas de sufocamento e apagamento de ancestralidades, magias e performatividades exercidas ao longo da história. De modo a discutir essas práticas de extermínio e suas formas de resistência, Gadelha traz à discussão a ideia de assombro, que seria uma força paralisadora e uma ferramenta de opressão. Essa assombração, no entanto, é convocada para a dança pelo Coletive, que busca expandir os limites de seres em constante transmutação.





Ustão

2023

Ustão nasce de um sonho. A artista carioca Ayla Tavares relata a aparição de uma vela que queimava ao contrário, uma cena sonhada durante o auge da pandemia de COVID-19 no ano de 2020. A imagem enigmática, que beira o absurdo pela impossibilidade de consumação da vela em seu desafio gravitacional, mostra-se muito recorrente, contudo, em simpatias para desfazer quebrantos, retornando-o ao seu emissor ou anulando-o. Funcionou, em um primeiro instante, como ferramenta de autodefesa contra o caos externo vivenciado naquele momento.





Tempos em choque na obra do artista chinês Sun Xun

2017

Especializando-se em arte impressa e dedicando-se a estudos pessoais sobre animação, um de seus primeiros filmes a se materializar é “Shock of Time”, que questiona noções como tempo, narrativa, registro e linearidade histórica, ressignificando objetos emblemáticos da passagem histórica e símbolos dos quais ele se apropria para evocar a incerteza e inescrutabilidade da qual a história é perpassada em nossa memória pessoal e social.






Os resquícios construtivos de Érica Magalhães

2019

Valendo-se de materiais recorrentes em construções de edifícios, como cimento, vergalhões e pedras, a artista os aproxima de objetos intrinsecamente frágeis, como porcelanas e vidros. Eles atuam no jogo de forças entre matérias brutas e singelas, que, por vezes, parecem alternar suas propriedades em recusa a uma categorização dicotômica simples. O limiar construção/desconstrução, presente na primeira fase da artista, questiona, por conseguinte, a intenção do fazer artístico e seu produto simbólico. 





Sobre Daniel Beerstecher

2019

Daniel inicia seus projetos através da colagem. Nelas, aproxima recortes de diferentes contextos e imagina novas formas de se relacionar com o mundo. Em Liberation 4.0 (2018), drones carregam pássaros em seus viveiros na cidade do Rio de Janeiro, enquanto que em Land-Sailor (2012), barcos trafegam em estradas de alta velocidade. Ali, experimenta quais imagens funcionam para serem concretizadas futuramente. Através dessas justaposições, o artista cria projetos que dialogam com diferentes manifestações culturais entre os países que visita. As composições funcionam como um registro de seu processo, que, através da colagem, experimenta o espaço a partir de suas imagens.





Komposition in Blau: entre o sensível e o transcendente

2019

Apresentando uma rica experiência sensorial, Fischinger cria uma série de trabalhos que lidam com o potencial da cor, do som e da forma em uma busca pela transcendência. O curta integra a influência do abstracionismo presente no cinema alemão junto à Walter Ruttmann, Viking Eggeling e Hans Richter com a a influência de pintores do neoplasticismo, tais como Kandinsky, Fraz Marc e Paul Klee, além dos integrantes da Bauhaus e do grupo De Stijl. Encontramos também um grande contato com o Orfismo, movimento pictórico francês marcado pelo uso de círculos concêntricos e justapostos, cores puras e a utilização das leis de ótica de Newton.





Nota curta sobre o vídeo "Faceshopping", de Sophie

2020

Aproximado de cosméticos em prateleiras, propagandas de refrigerantes e confirmações de segurança próprias da internet, o rosto é esticado, rasgado, recortado e deformado a ponto de se desgarrar de uma busca por verossimilhança e se tornar um pastiche. “Eu queria criar esses sentimentos carnais como algo impessoal, um material com o qual se pode brincar como qualquer outra coisa. E depende de você [decidir] onde sua alma ou ser espiritual se cruza com essa carne”.





O porvir da virtualidade

2019

Ademais, os vídeos evidenciam um aspecto plástico sob o qual se ancoram: a artificialidade da imagem videográfica. Para além de uma pesquisa acerca da especificidade do vídeo, o falso ou, ainda, o porvir da virtualidade parece sustentar as duas pesquisas. O desejo de um simulacro do real dá lugar à exploração daquilo que foge à apreensão contemplativa da natureza.